terça-feira, 8 de outubro de 2013

Correntes de Povoamento

Vamos construir o conceito de for­mação territorial por meio da análise do processo de povoamento e valorização do espaço brasileiro e do argentino. Os países e seus territórios resultam de processos históricos, muitas vezes, bastante diferentes entre si. O Brasil é o único tributário do domínio português sobre grandes extensões de terras situadas na América; a Argentina, por seu turno, nasceu da desagregação do vasto império espanhol na América. Os vetores de apropriação e valorização de ambos os territórios são expres­sões dessa diferença crucial.
Começaremos pelos dados relativos à densidade demográfica do Brasil e da Argentina.
Den­sidade demográfica é a medida do grau de concentração populacional em deter­minada área, dada pelo quociente entre a po­pulação absoluta e a sua extensão territorial.
densidade demográfica = população absoluta dividida pela área
Dividindo-se a po­pulação brasileira (183.987.291 habitantes em 2007) pela extensão territorial do país (8.514.877 km2), obtemos uma densidade demográfica média de 21,6 hab./km2, relativamente baixa para os padrões mundiais. A população brasileira não é uniformemente distribuída pelo território do país. A tabela serve como ele­mento para essa explicação.
De acordo a tabela “Brasil: população e densidade demográfica, por estado”, na página 13 do caderno do aluno, Roraima é a úni­ca Unidade da Federação com densidade demo­gráfica inferior a 2 hab./km2, em 2007, enquanto Rio de Janeiro, Distrito Federal, São Paulo e Alagoas apresentam densidades demográficas superiores a 100 hab./km2 no mesmo ano. A elevada densidade demográfica do Distrito Federal é relativamente fácil de explicar, já que ele ocupa uma área relativamente pequena. Os Estados da Região Norte apresentam densidades demo­gráficas bastante inferiores à média nacional. É importante também destacar que, no Brasil, as maiores densidades demográficas estão lo­calizadas nas proximidades do litoral, devido à história de povoamento do país. Como se sabe, a colonização portuguesa priorizou principal­mente a exploração da faixa litorânea, gerando uma apropriação esparsa e desigual do interior.
Os movimentos colonizadores no século XVI
Utilizaremos documentos cartográficos para analisarmos os vetores da expansão colonial portuguesa e espanhola na América do Sul entre os séculos XVI e XVIII, em especial nos territórios que mais tarde viriam a pertencer ao Brasil e à Argentina.
O mapa “Américas do Sul e Central: rotas de colonização”, na página 17 do caderno do aluno, destaca as rotas de coloniza­ção na América Portuguesa e na América Hispânica nos séculos referidos. Desde 1549, a América Portuguesa dispunha de um governador-geral nomeado pelo rei, que rece­bia poderes de fiscalização e defesa sobre o conjunto do território colonial lusitano da América. No caso da América Hispâ­nica, a administração foi descentralizada desde o início, e as possessões coloniais di­vididas em vice-reinados e capitanias. O nú­cleo da colonização espanhola era formado pelas principais áreas andinas de minera­ção, situadas no Peru e no Alto Peru (em especial Potosí, atual Bolívia). O porto de Buenos Aires, no estuário do Rio da Prata, funcionava como elo entre as zonas minei­ras andinas e os mercados europeus, escoan­do principalmente a prata contrabandeada para a Inglaterra e para a Holanda e rece­bendo, destes países, manufaturas que tam­bém penetravam ilegalmente nas possessões coloniais espanholas.
Analisando as rotas de colonização portuguesas e espanholas, percebemos que, na América Portuguesa, todas as rotas de co­lonização tinham início no litoral atlântico, enquanto na América Hispânica existiam fluxos importantes nas duas direções: do Atlântico para as regiões mineradoras e das regiões mineradoras para o Atlântico.
O povoamento no século XIX e suas consequências
A Argentina proclamou sua independência em 1816, e o Brasil, em 1822. No momento da independência, nenhum dos dois países tinha se apropriado efetivamente de seus territórios. Na Argentina, apenas um terço do território era ocu­pado pelos herdeiros dos colonizadores, a maior parte ainda estava sob controle das populações indígenas, com as quais o país interdependente mantinha relações conflituosas. A capital, Buenos Aires, centralizava as relações comerciais do país com o exterior, pois era o único porto internacio­nal. No Brasil, as áreas povoadas pelos herdeiros dos colonizadores portugueses equivaliam a cer­ca de metade do território, mas já existiam diver­sas cidades portuárias importantes, como Rio de Janeiro, Recife e Salvador. No Brasil, as maiores densidades demográficas estão localizadas nas proximidades do litoral, enquanto na Argentina, apesar da for­te concentração populacional na capital, Buenos Aires (onde vive cerca de um terço da população do país), existem manchas significativas de maio­res densidades demográficas situadas na porção central e oriental do território.
Se observarmos os mapas “Brasil: povoamento no início do século XIX”, na página 18, e “Argentina: povoamento no início do século XIX”, na página 19, ambos no caderno do aluno, conferimos que o território luso-brasileiro foi ocupado da costa para o interior, o que conferiu ao Brasil um caráter de povoamento predominantemente litorâneo e certa continuidade espacial. A Argentina, por sua vez, foi ocu­pada a partir de seus extremos, o Noroeste e o Rio da Prata, e de um movimento colonizador secundário a partir do Oeste.

 CORRENTES DE POVOAMENTO DO BRASIL

Quando os portugueses se encontravam no Brasil, tinham como principal objetivo explorar os recursos naturais existentes no interior do país. Com base nessa afirmação, fica claro o desprovimento de interesse em povoar o novo território. Isso favoreceu o não surgimento de centros urbanos (cidades) de relevância, com exceção de algumas vilas e cidades de pequeno porte que emergiram na costa nordeste do Brasil, além de toda produção agropecuária que formou ao redor.


No século XVI o principal produto brasileiro era o açúcar, fato que favorecia a ocupação somente da faixa litorânea do país, uma vez que o escoamento da produção se dava por meio do oceano Atlântico. Com o cultivo da cana-de-açúcar, fez-se necessária a expansão das fronteiras agrícolas. Diante do fato, as policulturas foram cultivadas em áreas mais interioranas para dar lugar à produção monocultora.


Cem anos depois, entre os séculos XVII e XIII, houve o período denominado de aurífero, no qual as caravanas se voltaram para o interior do Brasil em busca de pedras preciosas como ouro e diamante, por exemplo. Nesse momento, foram desbravados territórios que correspondem hoje aos estados de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. As cidades que surgiam por causa da extração mineral promoviam certa aglomeração, no entanto, logo após os minérios se esgotarem, as mesmas ficavam praticamente desertas.


Um século depois, após iniciativas do governo para ocupar a área e impedir que a mesma fosse invadida por um dos países vizinhos, a região Sul foi povoada por imigrantes. No século XIX, o produto de grande expressão para o país deixou de ser a cana-de-açúcar e passou a ser o café, fato que proporcionou o povoamento do estado de São Paulo e o norte do Paraná. Com o declínio do café, o capital gerado pelo produto migrou para a produção industrial, especialmente na região sudeste. A partir daí, houve um elevado desenvolvimento das ferrovias. Mais tarde, com a instalação da indústria automobilística, ocorreu a construção de rodovias, favorecendo ainda mais o povoamento do país.


Esses foram os principais momentos da urbanização brasileira, apesar de que os fatos históricos apresentados foram sintetizados com o objetivo de dinamizar o estudo geo-histórico do Brasil.



CORRENTES DE POVOAMENTO DA ARGENTINA


O território que hoje constitui a República Argentina foi descoberto, explorado e colonizado pela coroa espanhola, mas nem todas suas regiões foram colonizadas por homens que chegaram diretamente da Espanha. Como nosso solo estava num extremo do território sobre o qual avançava a conquista, grande parte dos colonizadores vieram de outros povoamentos.


Desde o século XVI até 1810 se desenvolveram sobre o território argentino três ondas imigratórias:


• Onda Imigratória do leste: vinha diretamente da Espanha, chegou através do Rio da Prata e do Paraná. Foi encarregada da fundação de cidades como Buenos Aires, Assunção do Paraguai, Santa Fe, Corrientes e Paraná.


• Onda Imigratória do Norte: descia do Peru e atravessava a Quebrada de Humahuaca, dando origem às cidades de: Santiago do Estero, San Miguel de Tucumán, Córdoba, Salta, San Fernando do Valle de Catamarca, La Rioja e San Salvador de Jujuy. Caracterizou–se por um desenvolvimento urbano e cultural com povoamento e crescimento econômico.


• Onda Imigratória do Oeste: Sua chegada a partir do Chile deu início ao nascimento de cidades como Mendoza, San Juan e San Luis.

Em 1700 havia no Vice–Reino do Rio da Prata uns 2.500 europeus. No princípio de 1810 eram apenas uns 6.000, de um total de população de 700.000 habitantes no atual território nacional. Diferentemente do processo de conquista desenvolvido pelos britânicos nos Estados Unidos, baseado no estabelecimento de colônias agrícolas, os espanhóis tiveram tendência à colonização urbana e deixaram territórios sem ocupar como Chaco, Patagônia e a Pampa, o que incidiu no desenvolvimento demográfico de forma determinante.