Vamos construir o conceito de formação
territorial por meio da análise do processo de povoamento e valorização do
espaço brasileiro e do argentino. Os países e seus territórios resultam de
processos históricos, muitas vezes, bastante diferentes entre si. O Brasil é o
único tributário do domínio português sobre grandes extensões de terras
situadas na América; a Argentina, por seu turno, nasceu da desagregação do
vasto império espanhol na América. Os vetores de apropriação e valorização de
ambos os territórios são expressões dessa diferença crucial.
Começaremos pelos dados relativos à densidade
demográfica do Brasil e da Argentina.
Densidade demográfica é a medida do grau de
concentração populacional em determinada área, dada pelo quociente entre a população
absoluta e a sua extensão territorial.
densidade demográfica = população absoluta
dividida pela área
Dividindo-se a população brasileira
(183.987.291 habitantes em 2007) pela extensão territorial do país (8.514.877
km2), obtemos uma densidade demográfica média de 21,6 hab./km2, relativamente
baixa para os padrões mundiais. A população brasileira não é uniformemente distribuída
pelo território do país. A tabela serve como elemento para essa explicação.
De acordo a tabela “Brasil: população e
densidade demográfica, por estado”, na página 13 do caderno do aluno, Roraima é
a única Unidade da Federação com densidade demográfica inferior a 2 hab./km2,
em 2007, enquanto Rio de Janeiro, Distrito Federal, São Paulo e Alagoas
apresentam densidades demográficas superiores a 100 hab./km2 no mesmo ano. A
elevada densidade demográfica do Distrito Federal é relativamente fácil de explicar,
já que ele ocupa uma área relativamente pequena. Os Estados da Região Norte
apresentam densidades demográficas bastante inferiores à média nacional. É
importante também destacar que, no Brasil, as maiores densidades demográficas
estão localizadas nas proximidades do litoral, devido à história de povoamento
do país. Como se sabe, a colonização portuguesa priorizou principalmente a
exploração da faixa litorânea, gerando uma apropriação esparsa e desigual do
interior.
Os movimentos colonizadores no século XVI
Utilizaremos documentos cartográficos para
analisarmos os vetores da expansão colonial portuguesa e espanhola na América
do Sul entre os séculos XVI e XVIII, em especial nos territórios que mais tarde
viriam a pertencer ao Brasil e à Argentina.
O mapa “Américas do Sul e Central: rotas de
colonização”, na página 17 do caderno do aluno, destaca as rotas de colonização
na América Portuguesa e na América Hispânica nos séculos referidos. Desde 1549,
a América Portuguesa dispunha de um governador-geral nomeado pelo rei, que recebia
poderes de fiscalização e defesa sobre o conjunto do território colonial
lusitano da América. No caso da América Hispânica, a administração foi
descentralizada desde o início, e as possessões coloniais divididas em
vice-reinados e capitanias. O núcleo da colonização espanhola era formado
pelas principais áreas andinas de mineração, situadas no Peru e no Alto Peru
(em especial Potosí, atual Bolívia). O porto de Buenos Aires, no estuário do
Rio da Prata, funcionava como elo entre as zonas mineiras andinas e os
mercados europeus, escoando principalmente a prata contrabandeada para a
Inglaterra e para a Holanda e recebendo, destes países, manufaturas que também
penetravam ilegalmente nas possessões coloniais espanholas.
Analisando as rotas de colonização
portuguesas e espanholas, percebemos que, na América Portuguesa, todas as rotas
de colonização tinham início no litoral atlântico, enquanto na América
Hispânica existiam fluxos importantes nas duas direções: do Atlântico para as
regiões mineradoras e das regiões mineradoras para o Atlântico.
O povoamento no século XIX e suas
consequências
A Argentina proclamou sua independência em
1816, e o Brasil, em 1822. No momento da independência, nenhum dos dois países
tinha se apropriado efetivamente de seus territórios. Na Argentina, apenas um
terço do território era ocupado pelos herdeiros dos colonizadores, a maior
parte ainda estava sob controle das populações indígenas, com as quais o país
interdependente mantinha relações conflituosas. A capital, Buenos Aires,
centralizava as relações comerciais do país com o exterior, pois era o único
porto internacional. No Brasil, as áreas povoadas pelos herdeiros dos
colonizadores portugueses equivaliam a cerca de metade do território, mas já
existiam diversas cidades portuárias importantes, como Rio de Janeiro, Recife
e Salvador. No Brasil, as maiores densidades demográficas estão localizadas nas
proximidades do litoral, enquanto na Argentina, apesar da forte concentração
populacional na capital, Buenos Aires (onde vive cerca de um terço da população
do país), existem manchas significativas de maiores densidades demográficas
situadas na porção central e oriental do território.
Se observarmos os mapas “Brasil: povoamento
no início do século XIX”, na página 18, e “Argentina: povoamento no início do
século XIX”, na página 19, ambos no caderno do aluno, conferimos que o
território luso-brasileiro foi ocupado da costa para o interior, o que conferiu
ao Brasil um caráter de povoamento predominantemente litorâneo e certa
continuidade espacial. A Argentina, por sua vez, foi ocupada a partir de seus
extremos, o Noroeste e o Rio da Prata, e de um movimento colonizador secundário
a partir do Oeste.
CORRENTES DE POVOAMENTO DO BRASIL
Quando os portugueses se encontravam no Brasil, tinham como principal objetivo
explorar os recursos naturais existentes no interior do país. Com base nessa
afirmação, fica claro o desprovimento de interesse em povoar o novo território.
Isso favoreceu o não surgimento de centros urbanos (cidades) de relevância, com
exceção de algumas vilas e cidades de pequeno porte que emergiram na costa
nordeste do Brasil, além de toda produção agropecuária que formou ao redor.
No século XVI o principal produto brasileiro era o açúcar, fato que favorecia a
ocupação somente da faixa litorânea do país, uma vez que o escoamento da
produção se dava por meio do oceano Atlântico. Com o cultivo da cana-de-açúcar,
fez-se necessária a expansão das fronteiras agrícolas. Diante do fato, as
policulturas foram cultivadas em áreas mais interioranas para dar lugar à
produção monocultora.
Cem anos depois, entre os séculos XVII e XIII, houve o período denominado de
aurífero, no qual as caravanas se voltaram para o interior do Brasil em busca
de pedras preciosas como ouro e diamante, por exemplo. Nesse momento, foram
desbravados territórios que correspondem hoje aos estados de Goiás, Mato Grosso
e Minas Gerais. As cidades que surgiam por causa da extração mineral promoviam
certa aglomeração, no entanto, logo após os minérios se esgotarem, as mesmas
ficavam praticamente desertas.
Um século depois, após iniciativas do governo para ocupar a área e impedir que
a mesma fosse invadida por um dos países vizinhos, a região Sul foi povoada por
imigrantes. No século XIX, o produto de grande expressão para o país deixou de
ser a cana-de-açúcar e passou a ser o café, fato que proporcionou o povoamento
do estado de São Paulo e o norte do Paraná. Com o declínio do café, o capital
gerado pelo produto migrou para a produção industrial, especialmente na região
sudeste. A partir daí, houve um elevado desenvolvimento das ferrovias. Mais
tarde, com a instalação da indústria automobilística, ocorreu a construção de
rodovias, favorecendo ainda mais o povoamento do país.
Esses foram os principais momentos da urbanização brasileira, apesar de que os
fatos históricos apresentados foram sintetizados com o objetivo de dinamizar o
estudo geo-histórico do Brasil.
CORRENTES DE POVOAMENTO DA ARGENTINA
O território que hoje constitui a República Argentina foi descoberto, explorado
e colonizado pela coroa espanhola, mas nem todas suas regiões foram colonizadas
por homens que chegaram diretamente da Espanha. Como nosso solo estava num
extremo do território sobre o qual avançava a conquista, grande parte dos
colonizadores vieram de outros povoamentos.
Desde o século XVI até 1810 se desenvolveram sobre o território argentino três
ondas imigratórias:
• Onda Imigratória do leste: vinha diretamente da Espanha, chegou através do
Rio da Prata e do Paraná. Foi encarregada da fundação de cidades como Buenos
Aires, Assunção do Paraguai, Santa Fe, Corrientes e Paraná.
• Onda Imigratória do Norte: descia do Peru e atravessava a Quebrada de
Humahuaca, dando origem às cidades de: Santiago do Estero, San Miguel de
Tucumán, Córdoba, Salta, San Fernando do Valle de Catamarca, La Rioja e San
Salvador de Jujuy. Caracterizou–se por um desenvolvimento urbano e cultural com
povoamento e crescimento econômico.
• Onda Imigratória do Oeste: Sua chegada a partir do Chile deu início ao
nascimento de cidades como Mendoza, San Juan e San Luis.
Em 1700 havia no Vice–Reino do Rio da Prata
uns 2.500 europeus. No princípio de 1810 eram apenas uns 6.000, de um total de
população de 700.000 habitantes no atual território nacional. Diferentemente do
processo de conquista desenvolvido pelos britânicos nos Estados Unidos, baseado
no estabelecimento de colônias agrícolas, os espanhóis tiveram tendência à
colonização urbana e deixaram territórios sem ocupar como Chaco, Patagônia e a
Pampa, o que incidiu no desenvolvimento demográfico de forma determinante.